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Noite de Nostalgia.

Cara, na real? Tédio é um saco, é arma na mão dos ansiosos. Mexe daqui, mexe de lá. Aí faço as unhas, arrumo o cabelo, ligo e desligo a TV varias vezes, atualizo minhas redes sociais, ouço música, canto músicas, mudo os móveis de lugar, ando pra lá e pra cá e ainda sobra tempo. O que fazer? Pra onde fugir? Que tédio caramba, nem uma pessoa pra me tirar daqui? Hora de dar uma geral no quarto. Arrumo a cama, as roupas, as gavetas e de tanto procurar o que não perdi, encontro o que não devia, mecho no que não podia. Um passado enterrado há tempos. Enterrado, apagado e esquecido vindo à tona, tinha que ser assim? Eu tinha que ir lá e mexer? Maldito TÉDIO. Sabe, não sei dizer o que fui numa outra vida, o que passei lá, não sei nada mesmo nem se quer imagino, mas tem algo que posso afirmar com toda certeza, herdei características extremamente egoístas a ponto de não abrir mão de nada, isso não é vai lá o certo, mas tá em mim não é? Fazer o que. Qualquer coisa em minha mão vira motivo para virar recordação, isso é chato, na maioria das vezes, até pequenos pedaços de papeis viram lembranças passadas, uma frase mal contada, um livro mal visto, um filme mal passado, tudo vira lembranças passadas, coisas insignificantes. Papel, bilhete, flor, data, telefone, cartas, anotações e qualquer coisa do gênero. Ao ser tão inconveniente e ir mexer onde não devia, encontrei o que não queria uma caixinha onde está grande parte do meu passado, coisas que as tranquei a mil e uma chaves. Ao abri-la pude sentir claramente o cheiro de nostalgia, a nostalgia que acompanhada de sonhos bons vinham magoas passadas. Um passado de felicidade e tristeza, chegadas e despedidas, amigos e amores, idas e vindas. E é onde minha mente começa a procurar respostas para o que, de fato, nunca foi uma pergunta, não devia, mas ela já fazia isso só, eu não me controlava mais a parti daquele momento. Recordo-me dos meus amigos que mudaram de cidade, me recordo daqueles que jurou me amar e hoje nem sei quem são, das pessoas que cruzaram minha vida por pouco tempo, mas que deixaram marcas tão profundas, quase impossíveis de serem apagadas. Lembrei dos meus ex. De tudo, de quase tudo e do tudo mais um pouco. Estava, literalmente, assistindo a um filme da minha vida sem nem ao menos ter saído do meu quarto lembro que não pedi aquilo, só veio e pronto. "E se eu tivesse dado uma segunda chance? Se tivesse sido mais flexível? Se tivesse atendido a ligação? E se...?" Perguntas perturbadoras tentando me tirar o sono, isso tava cansativo, queria sair dali, mas algo me prendia. Olho no relógio releio as cartas e vasculho a mente. Nunca acreditei em segundas chances. Sempre defendi a idéia de que se uma pessoa fez uma vez, fará uma segunda e sim, estou generalizando, mas hoje penso diferente, olho o modo que um dia fui diante do que me transformei. E nessa noite tudo parecia tão errado, tudo o que parecia irrelevante e certo, soava absurdamente perturbador, me via a mente coisas absurdas coisas a quais não queria lembrar e outras que só de lembrar sorria. As dúvidas e a busca por notícias no meio da noite assassinam a lucidez e dá lugar a neurose. A saudade e o medo de ter tomado a decisão errada faz com que tudo pareça certo, que tudo seja aceitável. Tentava fugir, mas algo me prendia, depois de horas parada, parecia que estava hipnotizada até que acabei adormecendo ali em uma fração de segundos, dormi diante do meu passado, dormi diante do baú fechado ao qual me relembrou velhas torturas e antigas conquistas, batalhas as quais as travei só e acompanhada.